Canto do Inácio

Thursday, July 01, 2010

BELEZA TOMA CONTA DA SELVA EM "MOGAMBO"
INÁCIO ARAUJO

"Mogambo" leva ao Quênia, na África, duas belas mulheres: Ava Gardner e Grace Kelly. Ambas têm a idéia de se apaixonar por Clark Gable, caçador especializado em fornecer animais para zoológicos de todo o mundo.

Ambas se apaixonam por Clark. E Clark, que não é bobo nem cego, se interessa por ambas. Escolher, porém, não será fácil. Num primeiro momento, ele não está nada a fim a levar em consideração o fato de Grace Kelly ser casada. Aliás, ela já chegou ali disposta a separar-se do marido.

Se Linda é a mulher culta e fina, Ava Gardner compõe o tipo oposto: ex-corista, com um passado duvidoso nas costas e com um quê vulgar. Dá para passar por cima desses detalhes diante de tamanha beleza. Mas Grace também é belíssima. Até aí, empate.

O que John Ford colocará ao longo do filme é a descoberta de si mesmo por um homem. "Quem eu sou?" é a questão que o homem se proporá, saiba ou não que a está colocando.

O problema será mais sutil do que em outras vezes que foi colocada pelo diretor. Não existe uma questão radical de caráter, que permite à mulher do povo, desprezada pela leis sociais, revelar seu valor às custas das demonstrações de fraqueza da gente fina.

Era o que acontecia, por exemplo, em "No Tempo das Diligências" (1939). Esse xadrez desenvolvido ao longo de caçadas confere ao filme uma sutileza rara, que talvez o tenha levado a ser subestimado. Descobrir quem é a mulher de sua vida equivale a descobrir, para Clark Gable, o que é sua vida: a beleza de "Mogambo" passa, em grande parte, por aí.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 11 de maio de 1994)

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